miércoles, 26 de enero de 2011

Encontros com pessoas da cidade



Queria ter tido mais tempo. Mas o tempo foi esse: três meses de registros. Encontros com pessoas, paulistas ou paulistanos ou pessoas de outros lugares que migraram para São Paulo.

Ouvi vários relatos sobre as casas e prédios. Os relatos mais espontâneos foram os mais significativos.

Gostou do museu?”
Várias pessoas fotografaram esse meu prédio!”
A Lapa era…Está vendo essa casinha aqui? Até lá embaixo era tudo casinha igual, viu? Era … vou te contar, viu?” (risos)

Quase sempre os mais velhos que nos abordavam nas calçadas das ruas.

“Nelson: Antigamente era a avenida e essas ruazinhas tudo de terra.
Patricia: Passava bonde aqui na Freguesia?
Nelson: Não, os coronéis da época não queriam barulho aqui. O bonde vinha até a Pompéia e até a Lapa”.




jueves, 20 de enero de 2011

Observatório


Ontem foi, oficialmente, nossa última caminhada a um bairro. Claro que podemos romper nosso cronograma se alguma necessidade se fizer presente, revisitar ou visitar algum lugar dentro da cidade de São Paulo.

O bairro Freguesia do Ó, nosso ultimo bairro, de alguma forma, se assemelha ao bairro da Penha, um dos nossos primeiros bairros visitados. Tem um aspecto de cidade do interior, de auto sustento, sem depender muito do restante dos bairros da cidade.

Embora nem todas as casas tenham sido preservadas, o “desenho” das ruas e da localização das casas parece ser o mesmo de muitos anos atrás. Formas curvilíneas, subida e descida de morros: topografia paulistana.

Ruas silenciosas, vazias. De repente, encontramos, casualmente, um morador que nasceu no bairro e vive lá há 74 anos, chama-se Nelson. Estávamos em frente ao armazém que era do tio dele e que hoje encontra-se fechado. Fica numa esquina do bairro, entre duas ruas principais, Francisco Pedroso, nome do pai de Nelson e a rua Itaberaba.

Fiquei impregnada de imagens das ruas da antiga Freguesia do Ó. Ruas caladas, onde eu poderia sugerir qualquer tempo, inventar algum passante, um cavalo, um chão de terra. A memória e sua história estão ali, em uma ou outra casa, nas praças, nos largos, mas o que mais surpreeende é a permanência das formas da geografia do lugar, ruas e morros, outro e atual tempo se sobrepõe.  



(outros) Excertos para as ruas, para os bairros

É bela a rua!” Denis Diderot

“Uma embriaguez  acomete aquele que longamente vagou sem rumo pelas ruas” Walter Benjamin

“O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas: a cidade diz tudo o que você deve pensar.” Ítalo Calvino.

“No emaranhado disperso da vida cotidiana, afinal, procuramos o eu através do outro, rastreamos nossas histórias e abrimos nossos diários íntimos na tentativa de nos oferecer verdadeiramente para o mundo.(...) É um novo encontro com o eu e com o outro, com a própria história e com a cidade.” Kátia Canton

“...cidades felizes ou infelizes. Não faz sentido dividir as cidades nessas duas categorias, mas em outras duas: aquelas que continuam ao longo dos anos e das mutações a dar forma aos desejos e aquelas em que os desejos conseguem cancelar a cidade ou são por esta cancelados” Ítalo Calvino.

miércoles, 19 de enero de 2011

(meus) Excertos para as ruas, para os bairros


É meio dia. Aguardamos mais uma incursão pelo bairro Barra Funda, mais caminhadas, metrô, esquinas, que lado escolher para seguir em frente?

Fizemos uma longa caminhada por algumas ruas do bairro de Pinheiros. Encontramos pessoas simpáticas e estranhas, mau cheiro, abandono, danificações, aparente descaso dos vizinhos, da prefeitura, do bairro. Desertos.

Para além de nossas caminhadas pela cidade, uma coisa é certa, a casa abandonada fica impregnada em nós.

Andanças em busca de uma memória “apagada”, negligenciada pelo olhar do outro.

A construção da casa abandonada parece falar sozinha, por suas cores, mas também silencia, há um mistério. O mistério, às vezes, é resolvido por um relato de um dono de uma casa comercial nas redondezas,  por algum vizinho ou  por um morador do próprio local, que por estar no estado de abandono, resolve entrar na casa e morar nela.

Chuva, cansaço, pequenas caminhadas para achar uma casa abandonada que não existia mais. Filmamos fachadas.


Casas esquecidas.
Vento.
Plantas, matos, às vezes, flores, tiram o teor sombrio da arquitetura derrotada pelo tempo, mas também pelo abandono das pessoas.


Portas sem acesso. Esquecidas. Cinzas. Invisíveis para a paisagem.

Para a arte perdurar é preciso cuidá-la. E a arte da arquitetura mostra os aspectos essenciais desse tempo que é preservado ou não. 

lunes, 17 de enero de 2011

Casa antiga e/ou abandonada ?

A questão é : que tipo de abandono abate sobre algumas moradias antigas da cidade de São Paulo?
Temos em nossos registros em vídeo e fotografia três “categorias”, casa antiga, casa abandonada e casa antiga e abandonada. O abandono tem diversos significados. Quando estamos na rua à fotografar e fazer nossos registros essa questão vem à tona. Quem abandonou o quê? Ou seja, o aparente abandono da casa, prédio, seja o que for, aparece por diversas ordens, em retalos e imagens.
Por questões familiares, heranças, por desinteresse politico-econômico, demolições, um local antigo que tem por primeira ordem revelar ao nosso tempo um pouco de história de 50 ou 100 anos atrás é, muitas vezes, esquecido e apagado, sobrando pouco a revelar das trajetórias das pessoas que antes de nós, viveram nessa cidade.
Uma triste sensação musical, sons sem melodia, aparece em minha memória e dela vem a sonorização dos destroços da casa no jardim sem cuidados, a veneziana entreaberta ou quebrada, os portões acorrentados e com cadeados, a cor das paredes esmaecidas, um latente esquecimento.  
Ao ver a casa, a memória tenta construir aquele tempo vivido e, hoje, perdido, invisível. Seja por associações de imagens, de outras experiências visuais, várias casas antigas se misturam e tentam buscar uma história, fazendo uma sobreposição de tempos. Unindo fragmentos, vou tentar montar essa história.
Qual a razão? Qual discurso social, político, econômico ou artístico pode sustentar essas casas antigas e preservar um patrimônio que é nosso, que conta a nossa história? De que forma podemos contribuir para essa preservação? Com nossas imagens, nós queremos a preservação, o patrimônio, ou seja, a memória e a história de uma cidade, não somos contra à novos empreendimentos, mas não defendemos às demolições.
Nosso trabalho visa uma validação artística a essas casas que ainda resistem ao crescimento da cidade de São Paulo e nós queremos mostrar que esses locais tem uma função e não precisam seguir se deteriorando.
Tudo se inscreve na nossa memória e nela permanece gravado.