sábado, 19 de marzo de 2011

ateliê na casa das caldeiras







A PERDA DA CASA

Que situação é essa que limita quem está de posse de uma casa? Quem determina o seu abandono? Que tipo de abandono abate sobre algumas moradias antigas da cidade de São Paulo? Pensamos, não sabemos, mas registramos isso em imagens.
Moradia e abandono, duas palavras ligadas, quando se trata das casas antigas e/ou abandonadas da cidade. O aparente abandono da casa ou prédio, aparece por diversas ordens, em retalos e imagens e ficamos a refletir sobre isso. Temos em nossos registros em vídeo e fotografia três “categorias”, casa antiga, casa abandonada e casa antiga e abandonada. O abandono tem diversos significados. Quando estamos na rua à fotografar e fazer nossos registros essa questão vem à tona, mas não há uma resposta.
Uma triste sensação musical, sons sem melodia, aparece em minha memória e dela vem a sonorização dos destroços da casa no jardim sem cuidados, a veneziana entreaberta ou quebrada, os portões acorrentados e com cadeados enferrujados, a cor das paredes esmaecidas, um latente esquecimento.  
Ao ver a casa, a memória tenta construir aquele tempo vivido e, hoje, perdido, invisível. Seja por associações de imagens, de outras experiências visuais, várias casas antigas se misturam em minha memória e tentam buscar uma história, fazendo uma sobreposição de tempos. Unindo fragmentos, tento montar essa história em documento, ou seja, em um documentário que tenta arduosamente valorizar cada parte dessa casa ou prédio, ocultados das engrenagens da contemporânea São Paulo.
Poderia contar vários relatos de moradores que foram gravados e discutir minhas reflexões acerca desse projeto, mas o que parece mais importante em Espaços Invisibles são as caminhadas que eu e a Jaqueline fizemos por mais de três meses pela cidade, percorrendo, dentro de suas zonas oeste, leste, norte, sul e centro, vários bairros, que através de pesquisa e de nossa intuição “histórica”, fizeram nós andarmos muito e nos revelaram casas e prédios belíssimos, belos em sua arquitetura, de estilo eclético, influenciado principalmente pelos estilos francês e italiano, do final do século XIX e da metade do século XX   e, infelizmente, na sua deterioração. 
Vagamos por muito tempo pelas ruas da cidade, como um flaneur baudelairiano e benjaminiano, saíamos a caminhar sem saber quase nada sobre o lugar que íamos, não buscávamos um endereço, olhávamos para todos os lados em busca de uma casa. Registramos aproximadamente trezentas casas, entre casarões, hotéis, salas de cinema, fábricas e galpões antigos ou abandonados. Eles fazem parte de uma memória silenciosa da cidade, poucos estão tombados e esperam ser reconstruídos, outros não sabemos o seu destino.
Com muita chuva, tempo nublado ou sol, escolhíamos uma rua qualquer e iniciávamos nosso trajeto de manhã cedo, ruas sombrias e vazias. Nós caminhávamos sem rumo definido, os quarteirões íam se somando e de repente, casualmente,  lá estava ela, a casa abandonada, espaço invisível ou oculto para ser revelado através das lentes de nossas câmeras.
Um encontro com a cidade paulistana foi armazenado, não pretendemos fazer uma denúncia com os registros – fotografias e documentário-  o que mostramos à vocês são trechos escolhidos do que julgamos serem os melhores momentos dos lugares esquecidos da cidade, gravados durante nossas longas caminhadas, já articulados em nossa memória, para compartilhar com vocês a existência deles.
Patrícia Francisco e Jaqueline Restrepo - LAB+DOCUMENTAL











lunes, 7 de febrero de 2011

Seu Dedé, Protetor da Vila Maria Zélia

Vila Maria Zélia é a primeira vila operária do Brasil, construída em 1917, foi idealizada pelo industrial Jorge Street, para abrigar os 2.100 operários especializados da Cia Nacional de Tecidos de Juta. 
Para mais informação: 

Seu Dedé nos fala da história da Vila, 
de seus esforços para preservar 
e com tristeza acha que a restauração 
vai demorar mais do que o prometido...





miércoles, 26 de enero de 2011

Encontros com pessoas da cidade



Queria ter tido mais tempo. Mas o tempo foi esse: três meses de registros. Encontros com pessoas, paulistas ou paulistanos ou pessoas de outros lugares que migraram para São Paulo.

Ouvi vários relatos sobre as casas e prédios. Os relatos mais espontâneos foram os mais significativos.

Gostou do museu?”
Várias pessoas fotografaram esse meu prédio!”
A Lapa era…Está vendo essa casinha aqui? Até lá embaixo era tudo casinha igual, viu? Era … vou te contar, viu?” (risos)

Quase sempre os mais velhos que nos abordavam nas calçadas das ruas.

“Nelson: Antigamente era a avenida e essas ruazinhas tudo de terra.
Patricia: Passava bonde aqui na Freguesia?
Nelson: Não, os coronéis da época não queriam barulho aqui. O bonde vinha até a Pompéia e até a Lapa”.




jueves, 20 de enero de 2011

Observatório


Ontem foi, oficialmente, nossa última caminhada a um bairro. Claro que podemos romper nosso cronograma se alguma necessidade se fizer presente, revisitar ou visitar algum lugar dentro da cidade de São Paulo.

O bairro Freguesia do Ó, nosso ultimo bairro, de alguma forma, se assemelha ao bairro da Penha, um dos nossos primeiros bairros visitados. Tem um aspecto de cidade do interior, de auto sustento, sem depender muito do restante dos bairros da cidade.

Embora nem todas as casas tenham sido preservadas, o “desenho” das ruas e da localização das casas parece ser o mesmo de muitos anos atrás. Formas curvilíneas, subida e descida de morros: topografia paulistana.

Ruas silenciosas, vazias. De repente, encontramos, casualmente, um morador que nasceu no bairro e vive lá há 74 anos, chama-se Nelson. Estávamos em frente ao armazém que era do tio dele e que hoje encontra-se fechado. Fica numa esquina do bairro, entre duas ruas principais, Francisco Pedroso, nome do pai de Nelson e a rua Itaberaba.

Fiquei impregnada de imagens das ruas da antiga Freguesia do Ó. Ruas caladas, onde eu poderia sugerir qualquer tempo, inventar algum passante, um cavalo, um chão de terra. A memória e sua história estão ali, em uma ou outra casa, nas praças, nos largos, mas o que mais surpreeende é a permanência das formas da geografia do lugar, ruas e morros, outro e atual tempo se sobrepõe.  



(outros) Excertos para as ruas, para os bairros

É bela a rua!” Denis Diderot

“Uma embriaguez  acomete aquele que longamente vagou sem rumo pelas ruas” Walter Benjamin

“O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas: a cidade diz tudo o que você deve pensar.” Ítalo Calvino.

“No emaranhado disperso da vida cotidiana, afinal, procuramos o eu através do outro, rastreamos nossas histórias e abrimos nossos diários íntimos na tentativa de nos oferecer verdadeiramente para o mundo.(...) É um novo encontro com o eu e com o outro, com a própria história e com a cidade.” Kátia Canton

“...cidades felizes ou infelizes. Não faz sentido dividir as cidades nessas duas categorias, mas em outras duas: aquelas que continuam ao longo dos anos e das mutações a dar forma aos desejos e aquelas em que os desejos conseguem cancelar a cidade ou são por esta cancelados” Ítalo Calvino.

miércoles, 19 de enero de 2011

(meus) Excertos para as ruas, para os bairros


É meio dia. Aguardamos mais uma incursão pelo bairro Barra Funda, mais caminhadas, metrô, esquinas, que lado escolher para seguir em frente?

Fizemos uma longa caminhada por algumas ruas do bairro de Pinheiros. Encontramos pessoas simpáticas e estranhas, mau cheiro, abandono, danificações, aparente descaso dos vizinhos, da prefeitura, do bairro. Desertos.

Para além de nossas caminhadas pela cidade, uma coisa é certa, a casa abandonada fica impregnada em nós.

Andanças em busca de uma memória “apagada”, negligenciada pelo olhar do outro.

A construção da casa abandonada parece falar sozinha, por suas cores, mas também silencia, há um mistério. O mistério, às vezes, é resolvido por um relato de um dono de uma casa comercial nas redondezas,  por algum vizinho ou  por um morador do próprio local, que por estar no estado de abandono, resolve entrar na casa e morar nela.

Chuva, cansaço, pequenas caminhadas para achar uma casa abandonada que não existia mais. Filmamos fachadas.


Casas esquecidas.
Vento.
Plantas, matos, às vezes, flores, tiram o teor sombrio da arquitetura derrotada pelo tempo, mas também pelo abandono das pessoas.


Portas sem acesso. Esquecidas. Cinzas. Invisíveis para a paisagem.

Para a arte perdurar é preciso cuidá-la. E a arte da arquitetura mostra os aspectos essenciais desse tempo que é preservado ou não. 

lunes, 17 de enero de 2011

Casa antiga e/ou abandonada ?

A questão é : que tipo de abandono abate sobre algumas moradias antigas da cidade de São Paulo?
Temos em nossos registros em vídeo e fotografia três “categorias”, casa antiga, casa abandonada e casa antiga e abandonada. O abandono tem diversos significados. Quando estamos na rua à fotografar e fazer nossos registros essa questão vem à tona. Quem abandonou o quê? Ou seja, o aparente abandono da casa, prédio, seja o que for, aparece por diversas ordens, em retalos e imagens.
Por questões familiares, heranças, por desinteresse politico-econômico, demolições, um local antigo que tem por primeira ordem revelar ao nosso tempo um pouco de história de 50 ou 100 anos atrás é, muitas vezes, esquecido e apagado, sobrando pouco a revelar das trajetórias das pessoas que antes de nós, viveram nessa cidade.
Uma triste sensação musical, sons sem melodia, aparece em minha memória e dela vem a sonorização dos destroços da casa no jardim sem cuidados, a veneziana entreaberta ou quebrada, os portões acorrentados e com cadeados, a cor das paredes esmaecidas, um latente esquecimento.  
Ao ver a casa, a memória tenta construir aquele tempo vivido e, hoje, perdido, invisível. Seja por associações de imagens, de outras experiências visuais, várias casas antigas se misturam e tentam buscar uma história, fazendo uma sobreposição de tempos. Unindo fragmentos, vou tentar montar essa história.
Qual a razão? Qual discurso social, político, econômico ou artístico pode sustentar essas casas antigas e preservar um patrimônio que é nosso, que conta a nossa história? De que forma podemos contribuir para essa preservação? Com nossas imagens, nós queremos a preservação, o patrimônio, ou seja, a memória e a história de uma cidade, não somos contra à novos empreendimentos, mas não defendemos às demolições.
Nosso trabalho visa uma validação artística a essas casas que ainda resistem ao crescimento da cidade de São Paulo e nós queremos mostrar que esses locais tem uma função e não precisam seguir se deteriorando.
Tudo se inscreve na nossa memória e nela permanece gravado.